Ari Aster e o terror moderno

Com seu longa-metragem de estreia – Hereditário (2018) – aclamado pelo público e pelos críticos e já no ano seguinte, o sucesso de seu segundo filme, MIdsommar (2019), Ari Aster teve seu nome posto de vez ao lado de outros grandes diretores que vem ganhando destaque pela originalidade na direção e produção de enredos que exploram o terror além do jumpscare. Mas com a ascensão conjunta desse novo grupo de diretores, e suas ideias revolucionárias, o que torna Ari Aster um expoente dentro desse grupo já em destaque?

É possível notar que Ari trabalha com temas cotidianos, onde é muito fácil ter a identificação do público com os acontecimentos experimentados pelos personagens, gerando uma empatia que o mesmo usa ao seu favor para brincar com os sentimentos e sensações de quem está assistindo.

Devido a essas propostas que são apresentadas como motor dos acontecimentos seguintes do longa, seus roteiros não são muito complicados e acabam propondo enredos de fácil entendimento ao longo do decorrer do filme.

Hereditário

Em Hereditário, se tem em grande parte do filme a fotografia mais escura e sombria, todos os detalhes dizem muito sobre os personagens e enredo, e toda a escolha de discussão que o mesmo traz é absurdamente tocante.

Por tratar de problemas psicológicos, tema que é muito ignorado pelas pessoas em geral, e perdas de pessoas próximas, o filme mostra a vivência das pessoas que lidam com esse problemas ou com outros ao seu redor que possuem os mesmos. O terror vem através do entendimento de que essa é uma realidade próxima a todos, e que as reações deles tem muito a ver com os sentimentos que acontecem e não são compartilhados por pouco se falar sobre.

Midsommar

Já em Midsommar a parte a paleta de cores do filme é pautada em tons claros, grande parte do filme acontece durante o dia e o cenário é extremamente bonito, cheio de simbolismos, com elementos que contam a história da sua própria forma, e uma estética agradável aos olhos que chega a ser estonteante. A forma como Ari consegue trabalhar com o jogo de câmera, usando planos não convencionais, traz um certo desconforto em contraponto a todo o cenário belíssimo, sem contar que no filme os personagens usam substâncias alucinógenas que são representadas por pequenos detalhes distorcidos que conseguem até passar despercebidos, mas que somam muito em todo o conjunto que é construído.

O filme também fala sobre perdas e problemas que são comuns, como o término de um relacionamento, mas ao contrário dos personagens de Hereditário, em Midsommar as pessoas que preferem pegar toda essa descarga emocional e não trabalhar elas da forma correta, apenas fugindo por não ter a devida confiança naqueles que deveriam ser os mais próximos.

São adicionados elementos clássicos do terror como o sobrenatural, momentos de tensão com trilha sonora alta, cenas com estéticas que dão medo apenas pela aparência, entre outros. Porém, Ari Aster consegue trabalhar com cada um desses pontos, dando características individuais que transmitem mensagens próprias e ainda conseguem dialogar entre si.

A partir de um premissa de grande impacto, durante o filme Ari cria a sensação que nada pior poderia acontecer, então quando as circunstâncias seguintes do filme começam a desenrolar, o espectador, que já está abalado junto com o personagem principal, começa a experimentar o extremo do que é bastante conhecido como ´´Terror Psicológico“.

É nítido como a atuação de todos dentro de seus filmes parece ter sido extremamente tratada de forma muito pessoal, a forma clara que os atores demonstram estar sentindo todos os dramas é arrepiante e faz jus a todo o histórico de desenvolvimento dos personagens que nos são apresentados.

Assim, o excesso de simplicidade de compreensão, que à primeira vista seria um ´´defeito“, são os fortes aliados que fazem o seu estilo de trabalho original e que foi tão bem aceito nessa nova fase do cinema funcionar. Ari trabalha as surpresas e plot twists através de elementos como atuação, direção de arte e até mesmo pela escolha de planos e enquadramentos que trazem sensações visuais diferentes do que estamos acostumados nos filmes de terror comuns, mostrando que o verdadeiro terror se encontra na realidade das tragédias vivenciadas e como é fácil se identificar com elas.

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