Dinheiro verde, rosa, preto e outros mais: até onde vai o compromisso da diversidade no mercado financeiro e onde começa o oportunismo mercadológico?
A diversidade, criatividade e inovação se tornaram um dos maiores diferenciais nas últimas décadas quando o assunto é construir um empreendimento de sucesso. Isso acontece porque quando uma marca toma posicionamentos ativos e bem definidos, a relação que ela possui com seus consumidores evolui para algo muito mais intenso do que procura e oferda.
Quando o consumidor se identifica com as problemáticas sociais que uma marca se posiciona a favor, por exemplo, ele não apenas está atribuindo valor ao que pretende comprar enquanto produto, mas também no discurso que essa empresa incorpora tanto em sua publicidade como em sua administração.
Você pode estar se questionando nesse momento: “mas a diversidade realmente impacta tanto assim o mercado? Não estamos falando apenas de minorias?”. E para dar dimensão ao quão forte pode ser o poder aquisitivo de determinados grupos da sociedade possuem, basta recorrermos aos números:
A comunidade LGBTQ+ é responsável por movimentar cerca de 420 bilhões de reais no Brasil por ano, segundo uma pesquisa feita pela “Out Leadership”. Essa quantidade de capital foi mais que o suficiente para diversos empreendedores e empresas virem que ali havia uma oportunidade de lucro, criando inclusive a terminologia de pink money (dinheiro rosa) pra esse capital.
Por outro lado, percebe-se que no ano de 2007 o rendimento anual da classe média negra estava em torno de R$ 337 bilhões, passando a R$ 554 bilhões em 2010, com crescimento de 38%. Estima-se que em 2017 a população afrobrasileira movimentou mais de 1,6 trilhão de reais na economia, segundo pesquisa feita pelo Data Popular. E claro que essa capacidade de consumo também não foi ignorada, originando o movimento do black money, ou dinheiro preto/negro.
O mercado além de identificar essas fontes de lucro, também se manteve atento a diversos outros possíveis grupos de consumidores, como é o caso por exemplo do green money (dinheiro verde), que se aplica a todo e qualquer capital que possa ser obtido através de campanhas com caráter ecológico e sustentável.
Mas onde mora o problema?
Contudo, por mais interessante que seja a existência desse protagonismo atribuído a causa de pessoas negras, LGBTQ+ e ambientais, tal como a representação destes na indústria em publicidade, propaganda e produtos num geral, é preciso manter o foco sobre como essas empresas agem e se realmente elas estão assumindo um compromisso com esses grupos e causas ou somente estampando slogans e frases bonitas, sem ao menos ter isso como realidade dentro de suas filiais ou ações administrativas.
É importante na hora de apoiar e consumir produtos de determinada marca, procurar se informar sobre como essa empresa trata seus funcionários, se ela contrata ou não pessoas LGBTQ+, negras, portadoras de deficiência e outros, onde estão atuando esses profissionais, se parte das verbas que essa empresa lucra com publicidade em cima dessas causas sociais é direcionada para realmente ajudar esses grupos, e se suas atividades industriais realmente são sustentáveis e ecologicamente corretas no caso das que se colocam como sustentáveis.
Numa era onde todo ponto de vista se torna alvo de potencial capitalização e não se tem muitas alternativas sobre consumir ou não consumir, é necessário que ao menos tenhamos o dobro de consciência ao fazê-lo. Direcionar nossas práticas de compra para produtores e empresas que participam ativamente de lutas com as quais nos identificamos e que realmente estão buscando fazer a diferença nesse setor.
O consumo consciente é, por lógica, a melhor alternativa para o cliente quando o assunto é impedir que qualquer empresa ou empreendedor se aproveite dessas causas. Sendo que para o empreendedor a transparência e comprometimento são os verdadeiros diferenciais na hora de incluir essa estratégia de mercado em suas ações.