É de conhecimento geral que a indústria musical funciona de uma maneira uniforme há muito tempo. Os artistas são sempre submetidos a uma mesma forma de divulgação e veiculação de seu trabalho. A sequência quase sempre segue a seguinte lógica:

Lançamento de um single – Divulgação do single em escala nacional ou mundial – Divulgação antecipada (em torno de uns 3 meses) da data de lançamento de um álbum – Promoção do álbum – Lançamento do álbum – Turnê de promoção do álbum e lançamento de mais singles.

Junto do lançamento dos singles o artista pode veicular um videoclipe. Mas nem todos os singles recebem um vídeo, assim como nem sempre um álbum ganha mais de 2 ou 3 singles.

Bom, tendo esse processo em mente. Vamos voltar para 2013 e falar um pouco sobre um acontecimento que mudou conceitos de como se fazer e promover música dentro dessa indústria. Na madrugada do dia 13 de dezembro de 2013 a loja de músicas iTunes foi atualizada inesperadamente com um novo álbum: BEYONCÉ. Neste dia o quinto álbum de estúdio e primeiro visual da cantora Beyoncé foi lançado. O álbum foi literalmente lançado do nada. Ninguém estava esperando aquilo naquele momento.

Previamente, o presidente da gravadora da cantora (Columbia Records) disse à imprensa que um novo álbum estava a caminho e que seu lançamento ficaria reservado ao ano de 2014. Mas quatro dias depois da entrevista o álbum estava a venda nas plataformas digitais.

O álbum homônimo de Beyoncé conta com 14 faixas músicas e 17 vídeos (sim, mais vídeos que músicas). A proposta para o álbum era colocar o mesmo foco colocado no som no visual, que não deixou a desejar, entre os diretores de seus clipes podemos encontrar Jonas Åkerlund (Haunted e Superpower), Terry Richardson (***Flawless), Melina Matsoukas (Pretty Hurts).

A ideia foi toda pensada pela própria cantora. Ela disse que vem percebendo uma falta de interesse e um clima fraco em torno do lançamento de álbuns, a atenção fica sempre nos singles e a composição total fica desvalorizada. Com isso, ela lançou tudo de uma vez não dando outra opção para o ouvinte que não fosse apenas escutar o álbum inteiro para ter noção de sua sonoridade e essência. Sobre o visual, ela diz que o objetivo foi de imergir o espectador em seus pensamentos enquanto escrevia a letra e como enxerga cada uma dessas músicas. A própria já disse que possui essa visão desde o começo de sua carreira e que só se viu pronta para colocar essa visão a tona e com força no processo de produção desse álbum.

O álbum se tornou uma grande referência. Hoje em dia vivemos em um momento onde os artistas dedicam grande parte de seus esforços e investimentos no audiovisual e, com toda certeza, é seguro dizer que esse álbum foi o agente que fez essa onda começar e crescer cada vez mais. A lista de álbuns com um prolongamento visual é, hoje, extensa e continua a crescer cada vez mais. A própria cantora não abriu a mão desse aspecto em seus álbuns subsequentes (Lemonade, Homecoming e The Gift).

A princípio muitas pessoas afirmaram que o álbum não teria bons resultados por não ter nenhum tipo de divulgação prévia, mas, muito pelo contrário, os números só enfatizam o marco que esse álbum foi na indústria. O álbum vendeu um total de 430 mil cópias em suas primeiras 24 horas e estreou em primeiro lugar na parada musical Billboard  com um total de 617.213 cópias vendidas na primeira semana, apenas nos Estados Unidos. No final de 2016, o álbum já contava com mais de 5 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e gerou mais de 1 bilhão de streams em um momento onde o stream ainda não dominava totalmente o mercado. 

BEYONCÉ foi contra o processo de promoção da indústria. A cantora realizou apenas duas etapas principais do processo: lançou o álbum e fez uma turnê para o disco. E fez um grande sucesso. É claro que tal sucesso foi fruto da grande fama da cantora, mas esse ato motivou outros artistas a desenvolverem maneiras próprias de divulgar suas produções. Além disso, ela trouxe um novo momento para os artistas, onde eles teriam um maior comprometimento com sua integridade artística, colocando dentro de sua arte seus pensamentos e suas visões e ainda criando um engajamento maior com os ouvintes e espectadores.