Beyoncé, que em 2013 mudou as regras de como as estrelas pop lançam suas músicas com a divulgação de um álbum autointitulado e uma série de vídeos correspondentes, voltou a seguir a mesma linha. Na noite do dia 23/04/2016-sábado, ela conseguiu o mesmo feito com a uma surpresa para seus fãs na divulgação de seu sexto disco solo após sua estreia na HBO americana, em um especial de uma hora de duração. O álbum visual da cantora, intitulado Lemonade, encantou os críticos com sua rica distribuição de sons e imagens. Há, no entanto, um nível mais profundo de interpretação, e juntos vamos ver a semiótica por trás deste álbum.
Para o lançamento, foi criado um média-metragem conceitual baseado nas novas músicas de “Queen B”, tudo para contar uma história abrangente, fortemente inspirada pelos estados nativos dos pais de Beyoncé, Louisiana e Texas. O imaginário de Lemonade (e até mesmo o seu título) entra nas raízes do profundo sul dos EUA. Em uma virada, Beyoncé levou seu lado pessoal para o profissional, com as faixas do novo álbum que descreve a angústia em detalhes – por vezes brutais.
Baseado também na jornada de autoconhecimento e cura de todas as mulheres, o título Lemonade faz referência à escravidão americana, quando os negros acreditavam que suco de limão clareava a pele. Os vídeos remetem a uma visão meio sombria do sul dos Estados Unidos. Falam sobre tristeza, intuição, negação, raiva, apatia, vazio, prestação de contas e reforma, como se Beyoncé encarasse de cabeça erguida os anos de especulações dos tabloides sobre seu casamento com um dos nomes mais importantes da indústria fonográfica.
A cantora trouxe com perfeição uma super crítica sobre o racismo, machismo e quebra totalmente todos os tabus. Em um dos vídeos do álbum, o ativista negro Malcolm X (assassinado em 1965, aos 39 anos), entoa: “A mulher mais desrespeitada nos Estados Unidos é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida nos Estados Unidos é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada nos Estados Unidos é a mulher negra”. Mães de jovens negros assassinados pela polícia, incluindo Michael Brown e Eric Garner, aparecem segurando fotos de seus filhos. O álbum conta com a colaboração de The Weeknd, James Blake, Jack White e Kendrick Lamar.
Apesar de toda a tristeza e confissões retratadas, o disco tem um final feliz, com cenas do casal Beyoncé e Jay-Z e a filha, Blue Ivy.
Uma das músicas do álbum (a mais repercutida e a então canção que originou o nome de sua nova tour) chama-se Formation, que retrata um pouco sobre a vida da cantora e mostra o chamado “Black Power” em que uma parte da letra ela diz:
“My daddy Alabama, Momma Louisiana, You mix that negro with that Creole
Make a Texas bama, I like my baby heir with baby hair and afros”
Tradução livre: “Meu pai é Alabama, minha mãe é Louisiana, você mistura esse negro com essa crioula e faz uma Texana, eu gosto da minha pequena herdeira com cabelo de bebê e afros”
Com esta canção, conclui-se que a cantora mais uma vez entrou pra história do pop provando o porquê de ela ter um dos nomes mais influentes na indústria musical, criando um dos álbuns do ano de 2016 (ano do lançamento) que ainda serve de críticas positivas e de referências, sendo um dos álbuns que mais ganhou premiações importantes, fora as indicações. Isso mostra uma Beyoncé mais segura de si e das suas origens. E se a história que foi usada para criação deste audiovisual é realidade ou não, realmente não importa. O que importa é a emoção e a mensagem passada em cada capítulo e letra.