Raya e o Último Dragão | ou | Como alguns filmes deveriam ser, na verdade, séries

Raya e o Último Dragão é 59° filme de animação da Disney e o último lançado pela mesma. O filme estreou, originalmente, em 05 de Março, simultaneamente nos cinemas e na plataforma de streaming Disney+, onde, na época, podia ser comprado pelo valor de R$ 69,90. Atualmente ele está liberado para ser assistido gratuitamente por todos os assinantes.

Raya conta a história da protagonista, de mesmo nome, que mora no reino fictício de Kumandra, e cujo povo venerava os dragões e as duas espécies viviam em harmonia. Porém uma força maligna conhecida como “Drunn” ameaçou a terra e os dragões precisaram se sacrificar para salvar a humanidade. 500 anos depois, com o reino dividido entre as terras de Presa, Coração, Garra, Espinha e Cauda, esse mal ressurgiu, e cabe a Raya procurar o último dragão para salvar seu reino e seu povo.

Separando o filme em tópicos, vou analisar cada um deles nessa crítica (ALERTA: CONTEM SPOILERS):

Enredo

Com o título deste post, não quero dizer que o enredo de Raya é fraco. O que eu quero dizer é que o enredo de Raya é corrido. O reino de Kumandra é muito vasto. Há muito o que explorar em cada uma das terras, mas infelizmente isso fica em segundo plano por causa do tempo de duração do filme. Raya foi baseado na cultura do sudeste asiático, então são vários elementos de várias culturas inseridas no mesmo filme. Assim, apesar da alta representatividade, há muitos elementos mal explorados e ficam soltos – Algo que poderia ter sido corrigido se Raya fosse, ao invés de um filme, uma série.

Também ficam muitas perguntas sem resposta no decorrer do filme, como “por que os dragões resolveram voltar agora, se na primeira vez que todos viraram pedra, não ocorreu isso?”, “por que Sisu sumiu se ela estava ‘viva’ todo esse tempo?” e etc.

Talvez a Disney tenha feito isso de propósito, torcendo para o filme ser um sucesso e, posteriormente, poder explorar várias formas rentabilizar a história.

A mensagem principal que eles queriam passar – de confiar e acreditar uns nos outros – consegue ser passada. Porém, a história é conflitante porque o filme te dá diversos motivos para não confiar em pessoas, porque o que mais ocorre durante o decorrer da trama são traições.

Embora o filme não seja ruim, o enredo deixa a desejar em muitos aspectos; mas pelo menos as cenas de luta são excelentes.

Personagens

Há muitos personagens em Raya, algo que não era visto em animações da Disney desde WiFi Ralph. Um ponto interessante aqui é que cada um dos personagens principais do filme representam uma das terras:

  • Raya é do Coração
  • Namaari é da Presa
  • Tong é da Coluna
  • Boun é da Cauda
  • Noi e os Oongis são da Garra

Existe uma mensagem subliminar do filme falando em união e confiança uns nos outros, já que pessoas de todos as terras tiveram de se unir para salvar o mundo.

Em geral cada personagem tem sua particularidade: Raya é desconfiada, Namaari é durona, Tong é carinhoso, Boun é meio hiperativo e Noi é esperta. Eles são todos bem divertidos, principalmente a Sisu, que chega a lembrar personagens como o Gênio de Aladdin ou o Mushu de Mulan por sua forma de falar e agir.

Apesar disso, há algumas coisas que precisam ser levadas em consideração. Como eu disse, são muitos personagens, e esse é um dos problemas do filme. Porque, apenas com o filme, não é possível se aprofundar em todos os personagens importantes da trama. Basicamente os personagens mais trabalhados aqui são a Raya, a Namaari por ser a rival da protagonista, e Sisu, que é o dragão. Os demais, apesar de terem seus momentos, são praticamente esquecíveis ou descartáveis durante o progresso da história. Só no final do filme que eles têm mais alguma participação importante, mas é só isso.

Visuais

Se o enredo e os personagens pecam em alguns aspectos, o mesmo não pode ser dito dos visuais. A animação 3D da Disney anda melhorando nos últimos anos e você consegue ver excelentes resultados aqui. Os cenários são tão bem feitos que alguns parecem reais.

Todos os reinos são visualmente ricos em detalhes, especialmente os reinos de Garra e Presa, que são um espetáculo a parte. O primeiro por ser um mercado flutuante, e o segundo por expor o esplendor do ouro e marfim por todas as partes.

Trilha sonora

A trilha de Raya ficou a cargo do compositor, maestro, produtor musical e músico James Newton Howard. Ele foi responsável por criar a trilha sonora de outros filmes da Disney, como Atlantis: O Reino Perdido, Dinossauro e Planeta do Tesouro.

O engraçado aqui é que apesar da Disney ter apresentado a Raya como uma princesa, ela não canta. O filme dela não é um musical, como costumam ser os filmes de princesa, e eu achei essa decisão correta, porque, pelo clima do filme, não ia fazer sentido eles começarem a cantar do nada.

“Ah, mas Mulan também era de ação mas teve músicas”. Sim, mas o remake em live-action não teve porque Niki Caro, diretora, disse que “não tendemos a cantar quando estamos indo à guerra”. E é isso a explicação para Raya. Eles estão indo para uma batalha para salvar o reino.  Eu não consigo enxergar uma forma de inserir musical neste filme, como eu consigo ver inserindo um musical em Rei Leão, Enrolados, etc, porque esses últimos têm um enredo mais leve, mais light em relação à Raya.

A Disney merece parabéns por estar fugindo do estereótipo de todo filme da Disney ser um musical. Ela tentou isso no início dos anos 2000 mas todas as tentativas foram falhas. Agora parece que ela conseguiu achar uma fórmula de fazer um filme sem música cair no gosto das pessoas.

Enfim, voltando a parte da trilha sonora, mais uma vez o trabalho de James está impecável. Ele reuniu instrumentos do sudeste asiático, junto com inovações da música moderna e ainda vozes em certos trechos e ficou excelente. Você pode conferir a trilha sonora completa do filme no Spotify.

Dublagem

A dublagem brasileira, mais uma vez, está de parabéns, com vozes escolhidas na medida certa para os personagens; mas nessa dublagem eu queria dar um detalhe especial à dublagem americana, porque você pode chamar Raya como a jornada de redenção de Kelly Marie Tran, dubladora original da protagonista.

Mandatory Credit: Photo by Owen Kolasinski/BFA/REX/Shutterstock (9449143df) Kelly Marie Tran Vanity Fair Oscar Party, Arrivals, Los Angeles, USA – 04 Mar 2018

Ela fez a personagem Rosie Tico nos episódios VIII e IX de Star Wars. Contudo, por causa do ódio exacerbado de alguns fãs da franquia, seja por xenofobia e/ou machismo, seja por motivos infantis pela participação dela no oitavo episódio, ela mal participa de um minuto no nono filme.

Gostei como ela foi bem recebida por dubladoras de outras princesas da Disney no dia da estreia de Raya e torço muito para que a carreira dela decole mais e mais.

Veredito final

Raya é um bom filme, com boas cenas de lutas, ótimas paisagens e excelente trilha sonora. Mas não espere um grande enredo, pois você pode se decepcionar um pouco.

Nota: 7/10

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